21.8.14

instruções para ser expulso do Clube Disneylândia


A linguagem é muitas vezes um poderoso instrumento de ocultação da verdade, de manipulação do outro, de controle, de intimidação, de opressão, de emudecimento.

m. b.

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Este livro tem de ser encarado [...] como um panfleto, uma obra sectária, política, parcial, radical, esquerdista, anti-imperialista e anticolonialista em seu bom e seu mau sentido.

Álvaro de Moya | 2010

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Os valores adultos são projetados, como se fossem diferentes, nas crianças, e protegidos por elas sem réplica. Os estratos (adulto e criança) não seriam antagônicos: resumem-se num só abraço, e a história se faz biologia. Desmorona-se, ao serem idênticos pais e filhos, o fundamento de um conflito geral verdadeiro. A criança pura substituirá o pai corrompido, com os valores desse progenitor. O futuro (a criança) representa o presente (o adulto) que, por sua vez, retransmite o passado. A independência que o pai outorga benevolamente a esse pequeno território é a mesma forma que assegura seu domínio.

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É um conhecimento sem compromisso, a autocolonização da imaginação adulta: por meio do domínio da criança, o grande domina a si mesmo.


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Todos os caminhos já estão gastos e definidos pelas páginas autoritárias: é o tribunal da história, da lei eterna patrocinada e sacramentada por aqueles que vão herdar o mundo, que não enfrentarão surpresa nenhuma, pois é o mundo traçado de antemão e para sempre no manual. Tudo já foi escrito neste rígido catecismo: resta somente pôr em prática e seguir lendo.


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Há uma horizontalidade neste mundo, e jamais é esquecida. É a que existe entre seres que têm a mesma condição e poder e, portanto, não podem ser dominados nem dominantes. A única coisa que lhes sobra - em vista de que a solidariedade entre semelhantes está proibida - é competir. O que se necessita é vencer o outro. E para que ganhar? Para estar mais acima dele, isto é, ingressar no clube dos dominantes, subir um escalão a mais (como um cabo, sargento, general de Disneylândia), na escala do mérito mercantil. A única horizontalidade autorizada é a linha plana que termina na meta de uma carreira.


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Disney masturba seus leitores sem autorizar-lhes um contato físico. Foi criada uma outra aberração: um mundo sexual assexuada.


Ariel & Armand | 1976
trad.: Álvaro de Moya