23.1.15

occupy

[Eneko]

movimentos de protesto que tomaram as ruas
São Paulo: Boitempo | 2012

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Os manifestantes são descartados como sonhadores, mas os verdadeiros sonhadores são os que pensam que as coisas podem continuar indefinidamente como estão, com apenas algumas mudanças cosméticas.

Os manifestantes devem ter cuidado não só com os inimigos, mas também com falsos amigos que fingem apoiá-los e trabalham duro para diluir o protesto. Da mesma forma que tomamos café sem cafeína, cerveja sem alcool e sorvete sem gordura, eles tentarão transformar os protestos num gesto moralista inofensivo.

Slavoj Zizek | O violento silêncio
de um novo começo

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Os novos movimentos sociais que ocorrem no bojo do capitalismo senil têm o sentido radical dos carecimentos vinculados à condição de proletariedade e à vida reduzida de amplos contingentes de jovens órfãos de futuridade. Os jovens indignados nos obrigam a refletir sobre as formas e metamorfoses da consciência social. Eles representam um cadinho complexo e rico de formas de consciência crítica que emergem no estado de barbárie social.

A presença da massa de jovens e velhos rebeldes nas ruas e praças nos fascina. Há o fervor em reconquistar de maneira coletiva e pacífica territórios urbanos, praças e lagos, verdadeiros espaços públicos marginalizados pela lógica neoliberal privatista que privilegiou não espaços de manifestação social, mas espaços de consumo e fruição intimista. O que assistismos hoje nos EUA e na Europa é quase uma catarse coletiva. Trata-se de individualidades pulsantes de indignação e rebeldia criativa, cada um com suas preocupações e dramas humanos singulares de homens e mulheres proletários; com seus sonhos e pequenas utopias pessoais capazes de dar um sentido à vida por meio da ressignificação do cotidiano como espaço de reinvindicação coletiva de direitos usurpados.

Giovanni Alves | Ocupar Wall Street...
e depois?

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O regime que nos governa pode não ser uma ditadura nem um sistema totalitário, mas ainda não é uma democracia.

Pensar de verdade significa pensar em sua radicalidade, utilizar a força crítica e radical do pensamento. Quando a força crítica do pensamento começa a agir, todas as respostas se tornam possíveis e alternativas novas aparecem na mesa. Nesses momentos, é como se o espectro das possibilidades aumentasse, pois para que novas propostas apareçam é necessário que saibamos, afinal de contas, quais são os verdadeiros problemas.

É a angustia do desencanto que nos une, que faz com que o mesmo sentimento apareça em Túnis e São Paulo, Cairo e Nova York.

Vivemos em uma sociedade em que o desencanto e o mal-estar são vistos imediatamente como sintomas de alguma doença que deve ser tratada o mais rápido possível, nem que seja preciso dopar todos com antidepressivos ou qualquer coisa dessa natureza. Mas é isso que vocês têm de mais concreto, de mais real. Esse é o índice de que há algo errado, não com vocês como indivíduos, mas com a vida social da qual fazem parte.

O discurso político reduziu-se a pregações, cada vez mais paranóicas, sobre segurança, perda de identidade e fim necessário da solidariedade social.

Vladimir Safatle | Amar
uma ideia

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O partido de Wall Street sabe muito bem que quando questões política e econômicas profundas se transformam em assuntos culturais não há como respondê-las. Geralmente ele aciona uma enorme variedade de opiniões de especialistas cativos, em sua maior parte empregados nos institutos de pesquisa e nas universidades que ele financia e espalhados na mídia que ele controla, para criar controvérsias sobre todo tipo de assunto que de fato não importa e sugerir soluções para questões que não existem. Em um momento, só fala da austeridade necessária a todas as outras pessoas para tratar do déficit e, em outro, propõe a redução de sua própria tributação sem se importar com o impacto que isso possa ter sobre o déficit. A única coisa que nunca pode ser debatida ou discutida abertamente é a verdadeira natureza da guerra de classes que ele tem mantido de modo tão incessante e cruel. Descrever algo como "guerra de classes" significa, no clima político atual e no julgamento de seus especialistas, colocar-se fora do espectro de considerações sérias e até mesmo ser tido como imbecil ou sedicioso.

Uma vez que todos os outros canais de expressão estão fechados para nós pelo poder do dinheiro, não temos outra opção a não ser ocupar os parques, praças e ruas de nossas cidades até que nossas opiniões sejam ouvidas e nossas necessidades atendidas.

Em resposta ao movimento Occupy Wall Street, o Estado, apoiado pelo poder da classe capitalista, tem um argumento surpreendente: ele, e só ele, tem o direito exclusivo de regular o espaço público e dele dispor. O público não tem o direito comum ao espaço público! Com que direito os prefeitos, os chefes de polícia, os oficiais militares e as autoridades do Estado dizem para nós, o povo, que eles podem determinar o que é público em "nosso" espaço público, bem como quem pode ocupá-lo e quando? Quando é que eles presumem expulsar-nos, o povo, de qualquer espaço que nós, o povo, decidimos coletiva e pacificamente ocupar? Eles dizem que agem de acordo com o interesse público (e usam as leis para prová-lo), mas nós somos o povo! Onde está "nosso interesse" em tudo isso? E, aliás, não é "nosso" dinheiro que os bancos e financistas usam tão descaradamente para acumular "seus" bônus?

Os privilégios corporativos de possuir todos os direitos dos indivíduos, mas sem as responsabilidades de verdadeiros cidadãos, têm de ser eliminados. Os bens públicos, como educação e saúde, devem ser oferecidos gratuitamente e de maneira acessível a todos. Os poderes monopolistas na mídia precisam ser abalados. A compra de eleições tem de ser considerada inconstitucional. A privatização de conhecimento e cultura precisa ser proibida. A liberdade de explorar e espoliar as pessoas tem de ser controlada e, no fim, tornada ilegal.

David Harvey | Os rebeldes na rua: o Partido de Wall Street encontra sua nêmesis

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No lugar da ação política, os novos atores sociais são instados a fomentar, no teatro de fabricação de resultados, a governança do sofrimento por meio de mudanças contabilizadas nos índices de desenvolvimento da humanidade.


Edson Teles | Democracia, segurança pública e coragem para agir na política