14.12.18

nowtopia

I. C.

A bicicleta se tornou um significante cultural que começa a unir pessoas de diferentes estratos. Sinaliza uma sensibilidade que vai contra as guerras do petróleo e a devastação do meio ambiente provocada por indústrias petrolíferas e químicas, a decadência urbana imposta por carros e rodovias, a infinita expansão monocultural que se espalha a partir de bairros de classe média alta. Esta nova subcultura da bicicleta representa localismo, ritmo mais humano, mais interação cara a cara, autossuficiência tecnológica prática, reuso e reciclagem, e um ambiente urbano saudável que favorece a autopropulsão, odores e vistas agradáveis, além de convívio humano.

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A explosão dessa expressão prática e política, por meio da bicicleta compreende um impulso opositor profundamente enraizado, que desafia os valores fundamentais da nossa sociedade. A bicicleta se tornou um dispositivo que conota autoemancipação, bem como experimentação artística e cultural. A ludicidade e a inventividade prática na subcultura estão gerando novas comunidades que podem ser enquadradas como lugares emergentes de recomposição da classe trabalhadora.

A subcultura ciclística não tem hierarquia que flua de diferenças salariais e propriedade, porque a maior parte dela se dá fora das trocas monetárias ou da lógica empresarial. Em vez disso, esses hackers da bicicleta são vasculhadores dos detritos descartados da vida urbana, que criam novas formas de diversão, celebração e expressão artística. A cultura deles se reproduz na ação, e não em atos de consumo passivo. Não sendo apenas uma cultura geek isolada, ela existe em espaços reais e une pessoas de distintas idades, classes, raças e gêneros.

Chris Carlsson
Trad.: Roberto C.