26.9.22

O adulador


Conhece-o, companheiro? É um desgraçado que se esqueceu de que é homem e transformou-se em cão.

Não tem uma palavra para os poderosos que não seja de submissão, nem um ato prático que não seja servil.

É odiado pelos companheiros, a quem prejudica em benefício dos patrões, é desprezados por estes, que o reconhecem indigno.

Não tem vontade, não tem honra nem dignidade de homem. As injustiças e os insultos dos patrões não o revoltam, nem o fazem corar, porque não tem brio.

Nunca será capaz, ainda mesmo que tenha de descer a uma infâmia, de desobedecer às ordens do mestre.

É pior que a besta, porque esta às vezes se insubordina contra a vontade ou a tirania do domínio.

Já viste em uma oficina o trabalhador que, ao chegar o mestre ou o patrão, logo dele se acerca para arguilo do estado de sua saúde?

Tens notado aquele que, mal o mestre dá sinal de cansaço ou incomodado de saúde, se apresse em levar-lhe uma cadeira para que descanse?

Conheces aquele que se finge o teu amigo, quer saber de tuas opiniões, do juízo que formas do teu mestre, para ter o que contar-lhe?

Viste aquele que para ser agradável ao patrão prejudica um trabalhador como ele, carregado de família, indicando quem faça as obras por menor preço?

Observaste o covarde que, confiado na proteção do mestre, insulta ao companheiro digno e honesto e quanto este o repele vai intrigá-lo e consegue tirar-lhe o trabalho e o pão?

Reparaste aqueles que têm as chaves dos armários e das gavetas onde há peças de ferramenta que não querem dar aos outros operários, que são assim prejudicados?

Todos esses são aduladores, os judas do operariado, com que nos aborrecemos.

P. Industrial 
Aurora Social, 1901