15.1.19

violência


Por séculos, nos foi dito que sem religião não somos mais do que animais egoístas lutando pelo nosso quinhão, nossa única moralidade a de uma matilha de lobos; apenas a religião, dizem, pode nos elevar a um nível espiritual mais alto. Hoje, quando a religião emerge como a fonte de violência homicida ao redor do mundo, garantias de que fundamentalistas cristãos ou muçulmanos ou hinduístas estão apenas abusando e pervertendo as nobres mensagens espirituais de seus credos soam cada vez mais vazias. Que tal restaurar a dignidade do ateísmo, um dos maiores legados da Europa e talvez nossa única chance de paz?

Depois de todos os argumentos recentes que proclamam o regresso "pós-secular" do religioso, os limites do desencantamento e a necessidade de redescoberta do sagrado, talvez estejamos precisando de uma dose do bom e velho ateísmo.

O que complica hoje toda essa questão é que as chacinas de massa são cada vez mais legitimadas em termos religiosos, ao passo que o pacifismo é predominantemente ateu. É a própria crença num propósito divino superior que nos permite instrumentalizar os indivíduos, ao mesmo tempo que o ateísmo não reconhece um propósito da mesma ordem e por isso recusa todas as formas de sacrifício sagrado.

Slavoj Zizek
Tad.: Miguel S.