14.2.07

a menininha


A criancinha de seis, sete ou oito anos sai pulando – pela estrada a fora eu vou... – pelos arredores da Vila Pinto, com a calcinha de renda da mãe rodopiando no ar, aos cantos:
“Calcinha da mamãe, calcinha da mamãe...”
As velhas beatas saem às janelas com a mão na boca e sinal de cruz. Excomungada. Filha do diabo. Uma das carolas, ao pé da janela, comenta:
“A desgraçadinha já com o sangue da mãe”.
“Putinha desde pequena” – diz a outra com os cotovelos na janela.
A menininha, sem se dar conta do diálogo das beatas, com vestidinho verde e fita no cabelo vai eufórica – andando pelos bosques impossíveis? – rua abaixo.
Na casa do Tito, ela mostra a calcinha quentinha esticando o bracinho branco:
“Tito, Tito, olha que legal o que eu tenho.” – esticando a calcinha na frente do rosto do amigo. “Olha o cheirinho”. – continuando.
Tito que era um pouco mais velho e já cursava a quarta série, disse, interrompendo-a:
“Sinta o cheiro, Nelci. É sinta o cheiro”.
"Não, Tito. É olha mesmo. Olha só a manchinha que tem aqui".