22.10.07

[Residência]

O corpo de minha cidade
é um naco de terra à beira-amar.
Nele, as ondas quebram
o tempo por entre as pedras.
As dunas empinadas apontam-no
para o céu de minha boca.
Traz sobre as ancas
um sol selvagem tatuado.
Um riacho corre até à foz
de seu sexo salitroso.
Pássaros marinhos migram
de seus olhos para as mãos.
Esquinas e gestos logo irrompem
sobre a praça de seu ventre.
Pelas ruas diariamente atravesso
o mapa de seu sangue.

Amar esta mulher é habitá-la.

Encontrei o poeta Adriano Espínola numa tarde chuvosa na Biblioteca Pública do Paraná. A partir desse encontro ao acaso, li as seguintes obras: Fala favela (1981); O lote clandestino (1984), Táxi (1986), Metrô (1993), Em trânsito (1996) e Beira-sol (1997), livro do qual retiro o poema acima.