28.3.08

[Coração vagabundo que quer guardar o mundo em mim]

[The key, de Jackson Pollock, 1946]

CORAÇÃO VAGABUNDO QUE QUER GUARDAR O MUNDO EM MIM
- INFIDELIDADE ENTRETEXTUAL -

Prometo que este pequeno trecho da autoria, já que estamos virtualmente desautorizados, de Marshal Berman será a última citação meio mais ou menos acadêmica utilizada por mim. Eu digo meio mais ou menos pelo fato de no seu discurso ouvirmos um leve tchan Nietzschiano e, que, no entanto, rompe com o aristotelismo filosófico - comumente conhecido como academicismo. O discurso de Berman é carregado de força que nos leva a visualizar mais claramente as metamorfoses oferecida, pelas mudanças revolucionárias, na sociedade.

[Em três, quatro, seis vezes no cartão de crédito, sem juros.]

No capítulo primeiro, Berman nos conta a tragédia de Fausto que serve de ilustração como metáfora do primeiro desenvolvimento moderno, rápido: em pleno vapor. Com suas novas cátedras urbanas. Mas é inserido na sua própria fecundação assexuada das idéias adquiridas de seu livro mágico que Fausto encontra o símbolo do Espírito da Terra e, imediatamente, do alto da abstrata montanha mágica, ao poder ao poder:

Observo e sinto minhas forças crescerem,
resplandeço embriagado por um vinho novo.
Sinto coragem de mergulhar no mundo,
de carregar todas as dores e alegrias da terra;
de lutar com a tormenta, de agarrar e torcer,
de apertar a mandíbula dos náufragos e jamais desistir.


"Ele invoca o Espírito da Terra e, quando este se manifesta, declara seu parentesco com ele; todavia, o espírito ri dele e de suas aspirações cósmicas e diz-lhe que procure outro espírito, mais adequado às suas reais dimensões. Antes que se desvaneça diante dele, o Espírito da Terra lançará sobre Fausto em epíteto escarnecedor que terá larga ressonância na cultura dos séculos seguintes: Ubermensch, "Super-homem". Livros inteiros poderiam ser escritos sobre as metamorfoses desse símbolo; o que importa aqui é o contexto metafísico e moral em que se manifesta pela primeira vez. Goethe traz à tona esse Ubermensch não tanto para expressar a luta titânica do homem moderno, mas para sugerir que muito dessa luta está mal colocada. O Espírito da Terra diz a Fausto: "Por que, em vez disso, você não luta para se tornar um Mensch - um autêntico ser humano?"

[BERMAN. Marshall. Tudo que é sólido desmancha no ar: a aventura da modernidade. São Paulo: Companhia das letras, 1986. p. 43-44]

E já que as incertezas batem fundo e, paradoxalmente, afirmam a gente pensa que duvida? Ou duvida que pensa? bah!:

"Duvido = penso. Penso: sou cadeia de pensamentos. Um pensamento segue outro. Por quê? Porque um pensamento não basta a si mesmo. Exige outro para certificar-se. Duvida de si mesmo. Sou cadeia de pensamentos que duvidam de si mesmo. Duvido, portanto sou. Duvido que sou, portanto confirmo que sou. Duvido que duvido, portanto torno o que sou. Por que sou? Porque duvido. Por que duvido? Porque sou. Portanto duvido que sou. Portanto duvido que duvido."

[FLUSSER, Vilém. Da religiosidade: a literatura e o senso da realidade. São Paulo: Escrituras, 2002. p. 48.]

À noite, duas pílulas de Plasil para o sono ser confortável advertem:

"Casos de depressão mental foram relatados em pacientes com ou sem história prévia de depressão. Os sintomas variaram de grau leve a grave, incluindo a concepção de idéias suicidas e em alguns casos até mesmo o suicídio."

No pico: o turbilhão é injetável.