28.4.08

[Fragilidade]

[O monstro verde, de Isabel de Sá, 1983]


Não gosto do que acabo de escrever - mas sou obrigada a aceitar o trecho todo porque ele me aconteceu.

[Clarice Lispector - Água Viva]

São indagações
cuja resposta é o contrário da linguagem.

[Rubens Rodrigues Torres Filho - linguagem]


Fragilidade

Trago em mim todas as indagações mas divagarei pelo mais temível: a sombra. O medo de nos tornarmos sombras e no esquecimento puf!, restar apenas o excesso do pó sobre o sapato, sobre os livros, sobre a mesa, o qual observaríamos a partir do ângulo de insustentável leveza. E é por esse medo que não mais sabemos o que somos (Sombras. Farsantes. Seres humanos) e o que referendamos (Sonhos. Esparsos espaços. Projetos. Reconhecimentos). Inalcançáveis. A divagação de todas as noites grávidas de pensamentos bem próximos à imagem de balões de hélio, por entre os quais, pouco antes do amanhecer, delineamos nossos desejos mais recônditos ao estado de espírito. De corpo, que fala: e se arrasta enfadonho. Seco.

A noite esfriou em Curitiba, e sabemos, ao estarmos empacados neste jogo de viver, criar uma leve certeza de que amanhã será apenas amanhã. Hoje. Agora. No instante de tudo. Os fatos não correspondem mais às ideías, ou seria o seu inverso? Sob o peso de nossos corpos (o filósofo imaginário): quilos e quilos de eureka. Razão pura! Pepita? Quanto valerá? Ou é por quilo? Pensando em tê-la sem jamais vivê-la. . Mas, perante o instante de todas as idéias, que coisa é aquela ali, no canto? Acuada? Uma bolha, que devora o suicídio? A coerência? Que maldita metamorfose é essa que ocorreu conosco? Meta-formose.

Cerebrando o corpo químico,

vamos percebendo, aos poucos, como o espaço de dentro é alucinado. Do ovo. Parede branca. Livros. Quadros. Quadrado : Buraco negro. Racionalidade oposta de cima para baixo. Cara e coroa: cidade capital universidade universo banco. E agora o mal.

Sob todo esse peso, penso logo empíricamente sobre a minha mutação pela qual passaram o eu, o homem e não o autor por detrás desse texto. - (é o parentese que temos de abrir para dizer (o) que somos, logo existimos e, que sem as máscaras, acreditarmos, na vivência do grande estilo. Como derretê-las? É possível tal plasticidade?)

No pico da altura – temível e terrível – nossa vertigem: a inocência de todas as idéias não corresponde a movimentação dos pensamentos. Ao caminhar na rua não sentimos falta? Sofremos da ausência de um grande toque? Escassos! Do que mesmo? Vestígios de coisas: uma voz se dirige a nós. Servirá para nossa orientação?

O estrangeiro do nosso corpo corresponde à verossimilhança de nossas indiferenças. Botemos, porém, a culpa na modernidade. O grande demônio. Sempre existirá a necessidade de erigir um demônio: a modernidade vista como substantivo concreto, sujeito determinante de nossas existências. Vazias. Ou apenas nos tornamos homens. Moles. Como se o destino, inerente, estivesse pregado ao nosso corpo. Onde mesmo? – Uma busca começará a ceder, intransponível. Nada muito além disso.

Antes de sairmos para a rua, perguntamos: há alguma coisa além do elevador. Talvez o poço, se ocorrer a queda. Entretanto, não há mais quedas, ou melhor, não podemos sofrê-las.

Não, não éramos assim, assim como. Mesmo? Ainda nos lembramos de vagas imagens. Mas como éramos. Como retornarmos à. E como sermos daqui para frente. Tornamo-nos estéries a ponto do ser gerar o nada? A ponto do ser germinar somente idéias?

E é apenas isso, antes da morte: uma frágil e delicada criatura.