19.6.08

[TV crimes]

[Keith Haring drawing in the New York City subway, 1981]


TELEVISÃO

meu bem
quanta solidão

***

[...]

Mas muito lhe será perdoado, à TV, pela sua ajuda aos doentes, aos velhos, aos solitários. Na grande cidade - num apartamentinho de quarto e sala, num casebre de subúrbio, numa orgulhosa mansão - a criatura solitária tem nela a grande distração, o grande consolo, a grande companhia. Ela instala dentro de sua toca humilde o tumulto e o frêmito de mil vidas, a emoção, o suspense, a fascinação dos dramas do mundo.A corujinha da madrugada não é apenas a companheira de gente importante, é a grande amiga da pessoa desimportante e só, da mulher velha, do homem doente... É a amiga dos entrevados, dos abandonados, dos que a vida esqueceu para um canto... ou dos que estão parados, paralisados, no esturpor de alguma desgraça... ou que no meio da noite sofrem o assalto de dúvidas e melancolias... mãe que espera filho, mulher que espera marido... homem arrasado que espera que a noite passe, que a noite passe, que a noite passe...

[BRAGA, Rubem. 200 crônicas escolhidas. 18 ed. Rio de Janeiro: Record, 2002. p. 486]