12.8.09

shhhhh

[Blinde Kinder beim Unterricht,
de August Sander, 1930]


Slides

Boa tarde aos senhores. Podem sentar. Pra quebrar o gelo e por uma certa insegurança inaugural, preparei um pequeno texto com o qual me apoiarei (não espero que inutilmente) para pensarmos o nosso objeto de estudo. Tenho quatro cópias. Uma para cada. Alvim, pode apagar a luz pra mim. Trouxe uma outra cópia a parte para ampliarmos no retroprojetor. Observemos primeiramente um bocado. Mano a mano, debruçado sobre a linguagem não-verbal, ou seja, a imagem. Antes interrompendo-os, gostaria de lhes dizer que podem ficar a vontade para fumar; beber: tem gim e conhaque na cozinha. Ah! e um vinho italiano para ser aberto. Agora, me deixem começar pela menina. A que está ao centro: enquanto as duas outras meninas cada qual na sua extremidade não tocam o chão com os pés (os quais se contarmos não passam de quatro), me remeteu, de imediato, a John Lennon. Quanto aos senhores, eu não sei. Tudo, bem? Estou indo rápido demais? O banheiro, qualquer mal-estar, é a direita aos fundos. Mas, como eu ia dizendo. Ao todo, percebam o detalhe do studium: são três cabulosas meninas cegas, das quais um desejo interno é elaborado do interior do spectador (que seríamos nós) para a fotografia; e essa subjetividade curiosa pode ser a chave com a qual penetraríamos na intimidade das três figuras. Entre outros segredos: que grau de parentesco haveria entre elas? Teriam sido molestadas pelo padastro? O que estariam lendo (que tipo de história os dedos ouviriam? Como seria o imaginário cego: uma caixa escura dentro da qual os irmãos Lumière manipulariam sombras?) São perguntas um tanto ilógicas, mas espero receber delas algumas respostas plausíveis dos componentes da mesa.

- Alguém... cigarros?

Por último, eu que tinha vindo aqui mais para ouvir do que falar, guardei mais umas palavrinhas de improvização. Nos fundos (da casa? da escola? da instituição para portadores de necessidades especiais?) deduzo um jogo da amarelinha pintado sobre o pequeno pavimento.

Sem mais para dizer: o tijolinho está à vista.