23.10.09

mini galeria do elogio mútuo


Depois de Guimarães Rosa e Manoel de Barros, quem apareceu para endemoniar a linguagem foi João Filho com o seu monstruoso
Encarniçado (Baleia, 2004). Agora, numa edição batuta, em formato de envelope, parte da coleção Cartas Bahianas, o escritor de Bom Jesus da Lapa nos presenteia com o excelente Ao longo da linha amarela. Para mais saberes, Ricardo Domeneck já andou caminhando ao longo dos sete contos reunidos.
Aqui, destaco um fragmento do conto "Cicerone Cego", que me pegou na hora neutra da madrugada.
E eis que é tudo da parte deste humilde e servo leitor.


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A insônia muitas vezes é um tipo de lucidez onde nos engolfa não aos borbotões, mas incisiva e parcimoniosamente a explicação de tudo. O mover-se na terrena. O que não evita a estranheza, um extenuar-se, alma-neurônio, ou o que nos dois pensa que alcança. Posso falar para os fantasmas, já que fisiologicamente ninguém me acompanha.

[FILHO, João. Ao longo da linha amarela. Salvador: P55, 2009. p. 34-35 (Coleção Cartas Bahianas)]