27.10.09

da contemporaneidade

Sabe aquele gordinho de óculos que ficava no fundo da classe cobiçando as menininhas que seus colegas surfistas catavam?...

[Ronaldo Bressane]


[...]

Então, já que cheguei à lama mais ou menos civilizado, vou citar (de memória) um trecho de "Sete noites". Jorge Luis Borges discorria sobre Schopenhauer e Buda. Tanto Sidharta (ou Buda, dá na mesma) como o sombrio filósofo acreditavam que o mundo era sonho e que seria muito bom se, de vez em quando, deixássemos de sonhá-lo. Buda tinha uma questão: o que é viver? "Viver é nascer, envelhecer, adoecer e morrer". Ele acreditava que não era só isso. Tem mais. Um dia abandonaríamos nossas quitinetes de marfim (Sidarta abandonou a sua) e teríamos que necessariamente sofrer de outros males, dentre os quais um que ele, Buda, considerava dos mais patéticos: "não estar com quem queremos". Pois é: na mosca.
O tal buda sabia das coisas. Ou o sujeito enche a cara, ou entra prum mosteiro... Ou pede pra ela voltar, mesmo sabendo que a mina vai lhe enfiar chifres, rir da sua cara. Mesmo sabendo que sua Antônia não tem nenhum tesão por você, e que você é um trouxa incorrigível. Que chora até com Caetano Veloso cantando Feelings.

[MIRISOLA, Marcelo. O homem da quitinete de marfim. Rio de Janeiro: Record, 2007. p. 174-75]