6.12.09

o canoeiro o autor e o menino


[para montar mesmo uma estória é preciso ter uma terceira pessoa para a qual narraríamos (o autor e o menino) a história do canoeiro metafísico que construiu um muro sobre as águas do rio]


pousou na ideia

Era no distante de tantas léguas na ponta do cume da montanha onde desaguava a nascente que vivia um canoeiro. Outro dia, ninguém tem noção da data, o canoeiro tomou o rumo errado na asa do urubu e se engosmou com a escama do peixe. Chispou! Lá em cima, mas não se sabe se na montanha ou no céu, talvez no fundo do mar, onde o rio desova um passado, o autor desiludido riscou no traço o voo torto e cego de tal modo que quem voava era um peixe, e peixe fora d'água, filho de peixe peixinho é, diante do poste do fio elétrico descuidou-se, não percebeu, desatento bateu e tombou. Um galo enorme brotou no cuco do personagem protagonista.

pulando o meio fio

Um menino de rua, eis, ouviu o ocorrido assim que avistou no rés do chão o animal morto. Com a boca mordeu o bicho sujo de terra e como caroço de manga cuspiu longe a cabecinha que perpendiculou uma curvatura plac! certeiro na lata de lixo.
O menino era muito bom de pontaria e mocava no matinho debaixo do viaduto o seu estilingue pra matar passarinho e quebrar vidraça de casa abandonada.
O menino faminto do umbigo saltado juntou uma quantia de gravetos e tascou fogo.
O menino tinha fósforos.
Uma panelinha amassada cheia de água ferveu pra fazer sopinha. O menino tomou todinha ao ponto de lamber a vasilha e foi dormir pois já era alta da noite e ele nunca bebeu biotônico fontoura.

quem quiser que conte outra

Assim, meus leitores mirins, se foi o canoeiro fora da asa. Da casa e da narrativa.