simples assim, não tem nem que vem: só pra degustar dois pedacinhos da entrevista que Paulo Leminski cedeu ao Caderno 2, do Estadão, nos idos de oitenta e seis:
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Seu primeiro livro, Catatau, já chegou provocando, dinamitando os limites. Não é conto, não é romance, não é poesia. Nele, o personagem central é nada menos que Descartes. E ele tem uma luneta em uma mão e um cachimbo de maconha em outra. São dois símbolos?
leminski É, são dois símbolos elementares. Um, de distanciamento crítico e outro de integração. A luneta é o distanciamento. E o cachimbo de maconha é a integração. A maconha gera integração. Numa roda de gente queimando fumo gera-se um tipo de comunicação diferente daquele gerado em um simpósio, por exemplo, sobre metafísica e a psicologia de Jung. É uma comunicação via substância, não via palavra.
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É tudo aqui e agora?
leminski É. Tudo é milagre. Não precisa curar leprosos. Não preciso de milagres desse tipo. A cor amarela, para mim, é um milagre. A percepção é um grande milagre. Poder ouvir um som, mi bemol, é um milagre. O azul, as experiências biológicas, o gosto da batata frita, são milagres. Dar três trepadas numa noite é um milagre. O mundo é cheio de milagres. E as pessoas ficam procurando... As pessoas querem circo. Não preciso de circo, o zen não precisa de circo. O zen diz: "é aqui e agora".
[Um poeta além do porquê, outubro de 86 - arquivo particular]