16.8.11

Em (e por) Cuba


[Buena Vista Social Club, Pueblo nuevo, 1997]

[...]

O teste de uma revolução (de verdade) é a relação entre o seu custo humano e o seu saldo social. A conclusão a respeito é que Cuba realizou um máximo de igualdade e justiça com o mínimo de sacrifício da liberdade. Trata-se de um regime voltado para a liberação do povo, a fim de promover a sua atuação efetiva na transformação da sociedade. Portanto, teve e tem de neutralizar inimigos, evitar retrocessos, usar a força para realizar o que é a solução mais humana para o homem. O intelectual de um país onde a burguesia domina com força bastante para permitir o jogo das opiniões; mesmo o intelectual de um país como o Brasil, que só recentemente readquiriu um pouco de direito a este jogo, pode estranhar, por exemplo, a severa arregimentação social do trabalho em Cuba, as limitações da sua imprensa, a dureza contra os adversários. Mas ao mesmo tempo verifica que enquanto nos nossos países há uma prática democrática de superfície, porque está baseada na tirania econômica e alienadora sobre a maioria absoluta, em Cuba há uma restrição relativa na superfície e, em profundidade, uma prática da democracia em seus aspectos fundamentais, isto é, os que asseguram não apenas a igualdade e a libertação da miséria, mas o direito de deliberar nas unidades de base e dialogar com os dirigentes, resultando a conquista dos instrumentos mentais que abrem as portas da vida digna.


[CANDIDO, Antonio. Recortes. 3 ed. Rio de Janeiro: Ouro sobre azul, 2004. p. 170]