10.11.11

marginais, não há mais

[André Letria]

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Se existem marginais hoje no Brasil, talvez sejam gente sem charme e sem carisma. Como os professores da rede pública, que continuam ensinando coisas com que ninguém mais se importa, a troco de salário nenhum. Como esses homens que puxam pelas ruas carroças cheias de jornais velhos e pedaços de papelão, num simulacro de trabalho digno com que, por algum motivo obscuro, eles preferem se identificar. De marginais-trabalhadores o Brasil ainda está cheio: mas estes não tem o sex-appeal dos bandidos, e vão morrer anônimos sem ter tido direito a seus quinze minutos de fama, digo, de cidadania.

[KEHL, Maria Rita. A mínima diferença: masculino e feminino na cultura. Rio de Janeiro: Imago Ed. 1996. p. 258-259]