
- Eu queria lhe propor uma troca de ideias...
- Deus me livre!
[Sapato furado, de Mário Quintana]
[...]
Ainda hoje não acho delicioso abrir minha porta a cada vez que um jovem escritor bate na aldrava: tantas pessoas nada têm a dizer. E depois, tão pouca coisa se passa entre dois seres, em uma conversa de meia hora. Por que não ir reler os livros do escritor de que gostamos? A solidão do escritor é muito profunda. Cada um é único, tem seus problemas, suas próprias técnicas, que cuidadosamente adquiriu; ele também tem sua própria vida. Não se ganha muita coisa em conversar com conhecidos (ou desconhecidos) sobre assuntos literários.
[YOURCENAR, Marguerite. De olhos abertos: entrevistas com Matthieu Galey. Tradução de Júlio Castañon. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983. p. 92]