31.7.14

prefácio

[Conrad : 2005]
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Boa parte do meu trabalho como escritor e palestrante concentrou-se em refutar as representações errôneas e a desumanização da nossa história, tentando, ao mesmo tempo, dar à versão palestina - tão eficientemente manchada pela mídia e por legiões de opositores polemistas - uma presença e forma humana. 

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Vivemos num mundo saturado pela mídia, no qual a preponderância enorme das imagens e notícias globais é controlada e difundida por uma meia dúzia de homens, em lugares como Londres e Nova York.

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No mundo de Joe Sacco não existem moderados apresentadores de voz macia, não existem narrativas melosas dos triunfos de Israel, sua democracia e suas conquistas, não existe a suposição preestabelecida e sempre confirmada - alheia a qualquer fonte histórica ou social e a qualquer realidade vivida - de palestinos como vilões fundamentalistas e atiradores de pedras, cujo principal objetivo é infernizar a vida dos pacíficos e perseguidos israelenses. O que temos, em vez disso, é a perspectiva onipresente de um jovem americano de aparência modesta, que parece ter caído em um mundo desconhecido e inóspito de ocupação militar, prisões arbitrárias, relatos angustiantes de casas demolidas e terras desapropriadas, tortura ("pressão física moderada") e força bruta aplicadas de forma cruel e abundante (em Palestina - Uma Nação Ocupada, um soldado israelense se recusa a deixar as pessoas passarem por um bloqueio de estrada na Cisjordânia e diz, revelando dentes enormes e ameaçadores, que pode fazê-lo por conta DISTO, o rifle M-16 que carrega). Os palestinos vivem à merce de tudo isso, todos os dias e, de fato, a toda hora.

 Edward W. Said | 2001