2.2.15

1890 - 1960

[Jonathan Burton]

Ser famoso não é bonito.
Não nos torna mais criativos.
São dispensáveis os arquivos.
Um manuscrito é só um escrito.

O fim da arte é doar somente.
Não são os louros nem as loas.
Constrange a nós, pobres pessoas,
estar na boca de toda a gente.

Cumpre viver sem impostura.
Viver até os últimos passos.
Aprender a amar os espaços
e a ouvir o som da voz futura.

Convém deixar brancos à beira
não do papel, mas do destino,
E nesses vãos deixar inscritos
capítulos da vida inteira.

Apagar-se no anonimato,
ocultando nossa passagem
pela vida, como à paisagem
oculta a nuvem com recato.

Alguns seguirão, passo a passo,
as pegadas do teu passar,
porém não deves separar
teu sucesso de teu fracasso.

Não deves renunciar a um mín-
imo pedaço do teu ser,
só estar vivo e permanecer
vivo, e viver até o fim.
 


Boris Pasternak
Trad.: Augusto de Campos