1.5.15

ni dios ni amo

[1814 | 1876]

[...]

O que prego é, até certo ponto, a revolta da vida contra a ciência, ou melhor, contra o governo da ciência, não para destruir a ciência - seria um crime de lesa-humanidade - mas para recolocá-la em seu lugar, de maneira que ela não possa jamais sair de novo. Até o presente momento, toda a história humana nada mais foi senão uma imolação perpétua e sangrenta de milhões de pobres seres humanos a uma abstração impiedosa qualquer: Deus, pátria, poder do Estado, honra nacional, direitos históricos, liberdade política, bem público. Tal foi, até agora, o movimento natural, espontâneo e fatal das sociedades humanas. Devemos suportá-lo em relação ao passado, como suportamos todas as fatalidades atuais. Deve-se acreditar que essa era a única via possível para a educação da espécie humana. Não devemos nos enganar: mesmo procurando informar amplamente sobre os artifícios maquiavélicos das classes governamentais, devemos reconhecer que nenhuma minoria teria sido bastante poderosa para impor todos esses horríveis sacrifícios às massas, se não tivesse havido, nelas mesmas, um movimento vertiginoso, espontâneo, levando-as a se sacrificarem sempre, ora a uma, ora a outra dessas abstrações devoradoras que, vampiros da história, sempre se nutriram de sangue humano.

Bakunin 
Trad.: Plínio Coelho