5.5.15

a multidão inquieta

[Quartier Latin | 1968]

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Os coletivos inspiram-se em variadas fontes, segundo o grupo de pertencimento de cada um. Esse fato é importante porque um grande equívoco é ver os jovens manifestantes como um todo, um bloco homogêneo. Como rejeitam lideranças verticalizadas, centralizadoras, também não há hegemonia de apenas uma ideologia ou utopia. O que os motivam é um sentimento de descontentamento, desencantamento e indignação contra a conjuntura ético-política dos dirigentes e representantes civis eleitos nas estruturas de poder estatal, as prioridades selecionadas pelas administrações públicas e os efeitos das políticas econômicas na sociedade. Não é por acaso que, defronte aos prédios públicos das praças e avenidas onde aconteceram os protestos, há atos de desagravos, pichações, xingamentos e ocupações (em vários casos). É uma forma de os jovens dizerem o que esteve em muitos cartazes: "Vocês não nos representam". Implícito nessas ações há também outro dado: os manifestantes, ao rejeitarem a forma como está sendo feito a política institucional, demonstram que é possível fazer política de outra maneira, não formal, nas ruas, com as vozes e corpos presentes e suas ressonâncias. Agindo assim, eles quebram o silêncio da aparente apatia e imobilidade sociopolítica.

Maria Gohn | Manifestações de junho de 2013 no Brasil e praças dos indignados no mundo | 2014