22.3.16

amor nos tempos de fúria

[Kees Van Dongen | 1877-1968]

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Um homem solitário, morando sozinho e ainda vivendo para os alunos, e Annie não parou de visitá-lo, mas no fim ela teve de esquecer, teve de seguir adiante, com as próprias necessidades, e o professor deu a ela um anel de prata com um escaravelho que ela ainda tinha e ainda usava. E além disse ele deu a Annie muito mais, mostrou a ela que o artista é o inimigo perpétuo do Estado, a mosca na sopa do Estado, o inimigo total de todas as forças organizadas que sobrepujam o indivíduo livre em todos os lugares, o artista como portador de Eros, portador da verdadeira força vital, portador do amor, num mundo aparentemente inclinado a destruir tudo isso, Eros versus civilização, vida contra morte. Sim, nas aulas de gravura você aprendia não apenas litografia em pedra e desenho a ponta-seca, você também aprendia que tinha de usar a arte para dizer algo importante, não apenas um monte de inutilidades minimalistas. Você passava a conhecer a tradição radical dos artistas e muralistas da WPA.

Lawrence Ferlinghetti
Trad.: Rodrigo Breunig