3.7.16

de la musique


Dead Kennedys | 1987


Numa sexta-feira passada um colega de trabalho que nunca mais vi me perguntou, ao passar pela sala vazia, depois da última aula, qual era a "minha banda favorita". Olhei para ele, ao erguer a cabeça do livro de chamada, como se eu tivesse cara de fã de algum grupo de rock da industria cultural a ter pôster dentro do quarto e tudo tudinho. Achei atípica essa curiosidade. A pergunta veio de supetão, da porta da sala, mas talvez o bóton que estava na "lapela" da blusa, me denunciasse. E ele quisesse puxar conversa.

Para contrapor outro peso musical do punk, o colega invisível me disse que preferia The Clash. Poxa, eram duas forças em um gênero só. Para caminhar na conversa, continuei:

- Qual escolher, Fernando? Dead Kennedys e The Clash são duas bandas completas. Foram dois grupos importantíssimos para a identidade punk. Rapazes que, por meio da música, criaram uma filosofia de vida, uma potência sonora, um sentido de questionar e expressar suas existências. Se considerarmos letra à consciência de classe as duas juntas deixaram um pensamento consistente, memorialístico e internacional. 

Para dar fôlego à palestra, continuei listando palavras-chaves em uma coluna para tratar o gênero em tipos:

a) Músicos contestatários
b) Cultura punk
c) Vida inteligente no planeta

O colega de profissão ri. Rimos. Levanto da mesa para desenhar no quadro. Traço uma trajetória a partir do marco inicial de 68. Retomo como referências Berurier Noir e Crass. Aproximo de outras realidades possíveis. Contextos. A cena em questão é musical, porém, também intelectual. Bandas que durante o processo artístico e politico formaram gerações. 

Fizeram do cotidiano banal, fortuna crítica.