2.5.17

limitar o limite: modos de subsistência

Tim Noble & Sue Webster

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Segundo um boato dos anos 1990, havia, além da Muralha da China, uma outra "construção" humana visível do espaço: o Aterro Sanitário de Fresh Kills, em Nova York; sintomaticamente, um limite e uma wasteland. Esse boato trazia consigo uma profunda verdade: depositado no fundo do mar, deslocado para as periferias, o lixo é a grande produção da modernidade - e sua maior realização como obra é a ilha de Lixo do Pacífico. O mundo foi contaminado pela indigestão consumista, fazendo da Terra um "planeta doente". Nesse processo, ignorou-se a reciprocidade da transformação envolvida em toda digestão, a sua via de mão dupla: a transformação daquilo que se consome. Mas, como sugerem as obras de Tim Noble e Sue Webster, o "projeto humano" se tornou a sombra de seu lixo - e não apenas o contrário. Não é um acaso, portanto, as cidades destruídas por catástrofes "naturais" se parecerem muito mais com lixões do que com ruínas. Vivemos em um cenário de terra devastada, em um mundo esvaziado de sentido e repleto de montanhas de lixo, que continuarão aqui mesmo que cessemos imediata e totalmente de gastar as coisas do mundo. Não é que teremos que nos virar com pouco, como alertava Benjamin: teremos que nos virar com restos.

Alexandre N.