29.8.17

tentativa de balanço: entrevista com Iumna Maria Simon


O que você acha mais proveitoso para o campo literário: o diálogo ou o embate entre crítica e poesia? O que estaria acontecendo hoje?


Isso depende muito, não é? As pessoas dialogam quando têm algo a trocar, consideram o interlocutor relevante e apostam na possibilidade de que um ponto de vista novo surja dessa troca. Quando todos são iguais, para que conversar? Para o silêncio meio deprê dessa falta de assunto existe Prozac, e não crítica. Embates, noutras ocasiões, são necessários para destruir algo que não quer morrer e ajudar alguma coisa nova a surgir. Acredito nas duas práticas, conforme a ocasião, mas acredito também que nem uma nem outra se ajustam ao quadro em que vivemos hoje, o qual exige estratégias novas capazes
de dar conta de uma complexidade a que não estamos preparados. Repetir esquemas da alta modernidade não resolve, porque vivemos numa barbárie multifuncional. Tudo é velho e razoavelmente inadequado, o novo nunca aparece, o consumo nos tornou banalmente iguais. Proveitoso seria um debate estético empenhado em avançar uma discussão à altura da experiência presente, sem preconceitos e também sem mitologias — mas seria ele possível contra tanto interesse articulado social e editorialmente?

Em suma, confesso que não vejo perspectivas e tendências firmes na direção da radicalidade necessária, pois a radicalidade artística sumiu do horizonte, assim como um pouco antes sumiram a social e a política.