15.9.17

paris: maio de 68



Este foi sem dúvida o maior levantamento revolucionário na Europa Ocidental desde a Comuna de Paris.

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Sob a influência dos estudantes revolucionários, milhares de pessoas começaram a questionar todo o princípio hierárquico. Os estudantes o questionaram onde ele parecia ser mais "natural": nos domínios do ensino e do saber. Afirmaram que a autogestão democrática era possível - e para provar começaram eles mesmos a pô-la em prática. Denunciaram o monopólio da informação e produziram milhões de panfletos para rompê-lo. Atacaram algum dos principais pilares da "civilização" contemporânea: as fronteiras entre os trabalhadores manuais e intelectuais, a sociedade do consumo, o caráter "divino" da Universidade e de outras fontes da cultura e da ciência capitalista.
Em questão de dias o enorme potencial criativo das pessoas rapidamente veio à tona. As ideias mais audaciosas e realistas - normalmente são ambas as mesmas - foram defendidas, discutidas, aplicadas. A linguagem, destituída de vida pelas décadas de baboseiras burocráticas, estripada por aqueles que a manipularam para fins publicitário, subitamente reapareceu como algo novo e alegre. As pessoas se reapropriaram dela em toda a sua plenitude. Slogans magnificamente adequados e poéticos emergiram da multidão anônima.

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Ela modificou tantos as relações de força na sociedade, quanto a imagem, na cabeça das pessoas, das instituições estabelecidas e dos dirigentes estabelecidos. Ela obrigou o Estado a revelar sua natureza opressiva e sua essência contraditória. Estudantes desarmados forçaram os poderes estabelecidos a tirar sua máscara, a suar de medo, a recorrer ao cassetete da polícia e à bomba de gás. Os estudantes por fim obrigaram os dirigentes burocráticos das "organizações da classe trabalhadora" a se revelarem como os últimos guardiões da ordem estabelecida.

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"Não foi a fome que levou os estudantes à revolta. Não havia uma "crise econômica" nem mesmo no sentido mais amplo da palavra. Essa revolta não teve nada a ver com o "sub-consumo" ou com "super-produção". A "queda da taxa de lucro" simplesmente não entrou em cena. Além do mais, o movimento estudantil não era baseado em reivindicações econômicas 

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O movimento atual mostrou que a contradição fundamental do capitalismo burocrático moderno não é a "anarquia de mercado". Não é a "contradição entre as forças produtivas e as relações de propriedade". O conflito central ao qual todos os outros conflitos estão relacionados é o conflito entre os que dão ordens (dirigentes) e os que obedecem ordens (executores). A contradição insolúvel que atravessa o âmago da sociedade capitalista moderna é a contradição entre a sua necessidade de excluir as pessoas da gestão de suas próprias atividades e ao mesmo tempo requerer a participação delas, sem a qual ela ruiria. Essas tendências se expressam por um lado na tentativa dos burocratas de converter homens em objetos (pela violência, pela mistificação, por novas técnicas de manipulação - ou "sonhos materiais") e, por outro lado, na recusa humana de permitir que sejam tratados dessa forma. 

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Sempre que se trava uma luta, se é forçado mais cedo ou mais tarde a questionar a totalidade da estrutura social.

Grupo Solidarity
Trad.: Leo V.