Por que as pessoas tomam drogas? Não o compreendo, mas de certo modo explico. As pessoas se drogam por falta de cultura.
Falo, evidentemente, da grande maioria ou da média dos drogados. É claro que quem toma drogas o faz para preencher um vazio, a ausência de alguma coisa, que causa desânimo e angústia. É um substituto da magia. Os primitivos estão sempre diante desse terrível vazio em seu íntimo. Ernesto De Martino o chama de "medo da perda da própria presença"; e os primitivos, precisamente, preenchem esse vazio recorrendo à magia, que o explica e o preenche.
No mundo moderno, a alienação devida ao condicionamento da natureza é substituída pela alienação devida ao condicionamento da sociedade: passado o primeiro momento de euforia (iluminismo, ciência, ciência aplicada, comodidade, bem estar, produção e consumo), o alienado começa a se sentir sozinho consigo mesmo: portanto, como o primitivo, ele se sente aterrorizado pela ideia da perda da própria presença.
Na realidade, todos tomamos drogas. Eu (ao que saiba) fazendo cinema; outros, aturdindo-se em outra atividade qualquer. A ação tem sempre uma função similar à da droga. Che Guevara se drogava através da ação revolucionária (a teorizada pelo castrismo romântico: agir antes de pensar); também o trabalho que ser para "produzir" é uma espécie de droga. O que salva da droga propriamente dita (ou seja, do suicídio) é sempre uma forma de segurança cultural. Todos os que se drogam são culturalmente inseguros. A passagem de uma cultura humanista para uma cultura técnica coloca em crise a própria noção de cultura. Vítimas dessa crise são sobretudo os jovens. É por isso que há tantos jovens que tomam drogas.
Carecer de certezas culturais e, portanto, da possibilidade de preencher o próprio vazio de alienado, se não de outro modo, por meio da auto-análise e da consciência (individual ou de classe), significa - em termos banais - ser também ignorante. Com efeito, a crise da cultura faz com que muitos jovens sejam literalmente ignorantes. Em suma: que não leiam mais, ou que não leiam com amor.
E mais: os jovens ignorantes que não tomam drogas, e que talvez se droguem através da ação política especializada (que é uma forma particular de ignorância), são com muita frequência maus, desumanos, impiedosos, desagradáveis: precisamente como a cruel cultura técnica neocapitalista (contra a qual lutam) quer que eles sejam.
Ao contrário, os jovens ignorantes que se drogam são, em geral, bons, doces, piedosos, cheios de caridade, apostólicos, desarmados, não-agressivos, confiantes (precisamente como os primitivos): a sua contestação in re, ou seja, no próprio corpo, é muito mais terrível e comovente. Eles, sim: se fossem capazes, estariam no pleno direito de atirar a primeira pedra. Ao contrário dos extremistas primeiros da classe, que falam como (maus) livros impressos, eles queimaram as pontes: tornaram impossível para si qualquer possibilidade de integração.
Todavia, a sua revolta - ainda que terrível e comovente - é inútil: precisamente porque privada de cultura ou fora da cultura. No fim das contas, é fácil ser bom e doce como os primitivos; é fácil ser piedoso por causa do terror que provém do vazio em que se vive.
Por outro lado (e esta é a conclusão desesperadora), liberta-se dessa "falta de cultura" ou de "interesse cultural" parece algo impossível; com efeito, ela provém, provavelmente, de um sentimento mais geral de "medo do futuro". Jamais, como nestes anos (nos quais a "previsão" tornou-se ciência), o futuro foi fonte de tanta incerteza, foi tão parecido com um pesadelo indecifrável.
Pasolini | 1968
