6.2.18

pensar a educação científica com Mikhail Bakunin


Malgrado a importância que ele concede à instrução, Bakunin recusa-se a fazer da educação a condição de possibilidade da emancipação. Bakunin formula o dilema [...] ao qual se choca todo projeto de transformação social educacionista: “Os mestres, os professores, os pais são todos membros dessa sociedade, todos mais ou menos embrutecidos ou desmoralizados por ela. Como eles dariam aos alunos o que lhes falta a si próprios?” A transformação social não pode encontrar sua condição de possibilidade em uma tomada de consciência produzida pela educação científica porque esta conduz a conceder um poder aos docentes quando, de fato, estes, como indivíduos, foram construídos por uma sociedade desigualitária e não podem totalmente, portanto, abstrair-se do que interiorizaram em parte inconscientemente. Por isso Bakunin proclama: “Que [o povo] emancipe-se de início, e ele instruir-se-á por si mesmo”. Entretanto, é possível perguntar-se como um tal processo é possível. Coube aos sindicalistas revolucionários, tais como Émile Pouget, ter formulado as condições de possibilidade: “A ação direta é, por consequência, um valor educativo sem igual: ela ensina a refletir, decidir, agir.” A ação direta constitui a condição de possibilidade de tal processo, pois ela inverte a relação entre a inteligência e a ação. A teoria revolucionária não precede a ação revolucionária. É na e pela ação sindicalista cotidiana que a classe operária é suscetível de desenvolver sua consciência revolucionária.

Essa inversão da primazia que implica a ação direta em relação à competência científica leva a uma inversão metafísica e filosófica das relações entre o pensamento e a ação.

Irène Pereira