27.10.18

multitude

2004


Uma das percepções fundamentais dos estudos culturais é que a comunicação (e portanto também a opinião pública) tem dois aspectos. Embora sejamos constantemente bombardeados pelas mensagens e significados da cultura e da mídia, não somos apenas receptores ou consumidores passivos. Estamos constantemente extraindo novos significados de nosso mundo cultural, resistindo às mensagens dominantes e descobrindo novos modos de expressão social. Não nos isolamos do mundo social da cultura dominante, mas tampouco simplesmente concordamos com seus poderes. O que fazemos, isto sim, é criar do interior da cultura dominante não apenas subculturas alternativas como também, o que é mais importante, novas redes coletivas de expressão. A comunicação é produtiva, não apenas de valores econômicos, mas também de subjetividade, e portanto a comunicação é um elemento central da produção biopolítica. Opinião pública não é uma expressão adequada para essas redes alternativas de expressão nascidas na resistência, pois, como vimos, nas concepções tradicionais a opinião pública tende a apresentar ou bem um espaço neutro de expressão individual ou bem um todo social unificado - ou uma combinação mediada desses dois pólos. Só podemos entender essas formas de expressão social como redes da multidão que resiste ao poder dominante e a partir de seu interior consegue produzir expressões alternativas.

Finalmente, a opinião pública não é uma voz unificada ou um ponto médio de equilíbrio social. Quando as pesquisas de opinião e as sondagens nos levam a pensar no público como um sujeito abstrato - o público pensa ou quer isto ou aquilo - o que temos é pura ficção e mistificação. A opinião pública não é uma forma de representação ou sequer um substituto moderno, técnico e estatístico da representação. Em vez de sujeito democrático, a opinião pública é um campo de conflito definido por relações de poder nas quais podemos e devemos intervir politicamente, através da comunicação, da produção cultural e de todas as outras forma de produção biopolítica.

Trad.: Clóvis M.