20.11.18

notas para uma vida não cafetinada


Lembro-me que no contexto da foto acima, eu tinha escrito: Brasil é um país muito bizarro. Aqui, camarada, cafetão é chamado de empresário.

Mas foi Suely Rolnik quem dichavou a performance de espetáculo em estilo Big Brother. Cito:

[...]

A imediata viralização de vídeos da festança de Maroni trouxe uma clara expressão visual à noção de “cafetinagem” [...]. Venho utilizando este termo desde 2002 para designar a dinâmica de relação entre capital e força vital no regime colonial-capitalístico – ou seja, sua medula na esfera micropolítica. Nessa direção, a imagem mais significativa é a de Maroni vestido de presidiário bulinando uma das profissionais do sexo de sua “empresa” perante o olhar voyeur de centenas de homens que participavam da folia gozosamente. Na cena, displays gigantes do juiz federal Sérgio Moro e da Ministra Cármen Lúcia, presidente do STF, decoram a parede da sinistra performance de Maroni, segundo ele, para render-lhes homenagem. A imagem revela explicitamente a articulação que deu lugar ao golpe de Estado entre, de um lado, operações micropolíticas de cafetinagem da pulsão vital e de mobilização da tradição colonial escravista fortemente impregnada na cultura brasileira e, de outro, operações macropolíticas para impedir a reeleição de Lula – e, mais amplamente, aniquilar a existência de qualquer tipo de resistência ao poder globalitário do capitalismo financeirizado. E mais: revela-se o papel central do Poder Judiciário em ambas as operações e na clara articulação entre elas para viabilizar o golpe.