1913 - 1996
Se digo: "As crianças são como os pais as fizeram e as educaram...", eu me deparo com o consentimento universal.
Se prossigo: "Os pais são como a atual sociedade os força a ser. Seria preciso ver como mudar realmente as condições de vida...", fecham-me a boca e o Centro que dirijo, sob o pretexto de que alguns de seus operários não têm o aspecto, que coisa!, de verdadeiros educadores.
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Criança tenaz, sem dúvida ainda terei que esperar muito tempo pela minha puberdade social, essa aceitação pura e simples das maneiras que têm os homens de nunca ser eles mesmos e de mutilar raivosamente as crianças.
Se na origem dos distúrbios de comportamento os médicos detectam taras hereditárias, a meu ver, de modo geral, inscrevem-se diante disso as mesquinharias e a desonestidade do adulto reinante.
Há meses, na falta de uma "instituição", quando me trazem uma criança difícil, eu a mando ir brincar e tranco o pai. As confissões que obtenho não são feitas para que eu me reconcilie com a vidinha burguesa.
Não há mais um dia sequer em que os jornais não nos falem de crimes e delitos cometidos por garotos. "Não há mais moral"... e é por isso que a sua filha está muda.
Mas há moral, sim, até demais, e da pior espécie, degenerada pelo temor, heredo-católica, e que faz o seu disse-me-disse protegida justamente por esse temor.
Fernand Deligny
Trad.: Marlon M.
