28.4.19

o encontro de Orson Welles com Kafka



O cinema tem com a arquitetura uma relação mais profunda do que com o teatro (Fritz Lang arquiteto). Ora, Welles sempre fez coexistirem dois modelos arquiteturais dos quais se serviu muito conscientemente. O modelo 1 é o dos esplendores e decadências, em arcaísmos, mas com função perfeitamente atual, subidas e descidas seguindo escadas infnitas, plongées e contre-plongées. O modelo 2 é o dos grandes ângulos e profundidades de campo, corredores ilimitados, transversais contíguas. Cidadão Kane ou The magni cent Ambersons [Os magnícos Ambersons] privilegiam o primeiro modelo, a Dama de Xangai o segundo. O Terceiro Homem, que não é, contudo, assinado por Welles, reúne os dois nesta mistura estranha de que falávamos: as escadas arcaicas, a grande roda vertical no céu; os esgotos-rizoma mal colocados sob a terra, com a contiguidade das galerias. Sempre a espiral paranóica infinita, e a linha esquizoide ilimitada. 

Deleuze e Guattari