5.6.19

a máquina da lama

2012

Sinto que a democracia está literalmente em perigo. Pode parecer exagero, mas não é. A democracia está em perigo no momento em que, se você se manifesta contra certos poderes, se se apresenta contra o governo, o que o espera é o ataque de uma máquina que lhe cobre de lama: um ataque que parte de sua vida privada, de fatos minúsculos de sua vida privada, que são usados contra você.

A força da democracia é a multiplicidade. Mas, infelizmente, o instinto que está emergindo no país é o que afirma que somos todos iguais, todos idênticos, todos somos a mesma coisa. É aqui que a máquina da lama vence. Convém saber enxergar as diferenças. A diferença é aquilo que a máquina da lama não quer que o espectador, o leitor, o cidadão intua. Uma coisa é a debilidade que todos temos, outra é o crime. Uma coisa é o erro, outra a extorsão. Os políticos podem errar, significa que agem. Mas uma pessoa que erra é bem diferente de uma pessoa corrupta.

É necessário dizer: "Nós somos diferentes". É preciso sublinhar a diferença, não lançar tudo no mesmo caldeirão. Assinalar, por exemplo, que a privacidade é sagrada, é um dos pilares da democracia.

O objetivo da máquina da lama é justamente dizer que é tudo a mesma coisa. E, principalmente, baixe o olhar, não critique, deixe que vença o mais esperto e, se criticar, o que o espera é isto: toda a sua privacidade se tornará pública.

A desinformação visa destruir as vítimas no campo dos amigos, é usada como punição, para obrigá-lo a se defender perante seus familiares, a dizer coisas que nada têm a ver com sua atividade pública. Semeia dúvidas e insinua suspeitas que justamente os amigos devem temer. Seja qual for seu estilo de vida, seja qual for seu trabalho, seja qual for seu pensamento, se você se posiciona contra certos poderes, estes sempre responderão com uma única estratégia: deslegitimá-lo.

Trad.: Joana d'Avila