A crise econômica, as finanças devoradas pelos derivativos e pelos capitais tóxicos, o enlouquecimento das Bolsas: em quase toda parte estão destruindo as democracias, destroem o trabalho e as esperanças, destroem créditos e vidas. Mas o que a crise não destrói - ao contrário, fortalece - são as economias do crime.
Na terra em que o narcotráfico é a principal força econômica em termos de faturamento, o líder mais poderoso dessa atividade vale mais do que um ministro.
O mundo está repleto de infelicidade? Lá vem a resposta: cocaína.
É o desafio entre pós-moderno e modernidade. Entre gritos e silêncio. As regras do jogo mudaram. Os atores se multiplicam. Nascem velozmente, devorando territórios e regiões inteiras. É a loucura dos novos cartéis. Estruturas mais flexíveis, velocidade de execução, familiaridade com a tecnologia, ostentação dos massacres, obscuras filosofias pseudorreligiosas. E uma fúria de empalidecer todos os que os precederam.
Números e cifras. Eu vejo somente sangue e dinheiro.
Todos os bens são obrigados a se submeter à regra do elástico. Todos menos um. A cocaína. Não existe mercado no mundo mais rentável que o da cocaína. Não existe investimento financeiro no mundo que frutifique como investir em cocaína. Nem mesmo as altas recordes de ações são compatíveis aos "juros" que rende o pó.
A cocaína é um bem refúgio. A cocaína é um bem anticíclico. A cocaína é o verdadeiro bem que não teme a escassez de recursos nem a inflação dos mercados. Há muitíssimos cantos do mundo que vivem sem hospitais, sem web, sem água corrente. Mas não sem pó.
Você poderia descobrir uma fonte de petróleo bruto no jardim da sua casa ou herdar uma mina de coltan, columbita-tantalita, que daria para abastecer todos os telefones do mundo, mas não passaria, saindo do zero, às luxuosas vilas da Costa Esmeralda com tanta velocidade quanto através do pó.
Se um grupo empresarial conseguir por as mãos na cocaína, deterá um poder impossível de alcançar com qualquer outro meio.
Só a lei pode arrebentar o elástico. Mas mesmo quando a lei descobre a raiz criminosa e tenta extirpá-la, é difícil encontrar todas as empresas legais, os investimentos imobiliários e as contas bancárias que foram adquiridos graças à tensão extraordinária obtida pelo pó branco.
Os varejistas fazem fortuna no fim de semana, no dia dos namorados ou quando o time local vence alguma coisa. Quanto mais motivos para festejar, mais eles vendem. Como os bares e pubs.
É o capitalismo nas suas origens. Grandes concentrações de ricos empresários que ditam lei e se infiltram em cada gânglio da sociedade. É um capitalismo tradicionalista, no qual os chefes de empresas competem para ostentar o poder e o ganho sem regatear nas doações à população.
Se tem uma coisa que o capitalismo demonstrou é que revoluções e tragédias nunca foram capazes de abatê-lo. Arranharam-no, mas o seu espírito nunca enfraqueceu.
O narcoestado se expande e fortalece os músculos, não mata um candidato à presidência malquisto, prefere comprar votos para eleger um do seu agrado, contagia cada um do país e, cono uma célula tumoral, o altera à sua imagem em um processo infeccioso para o qual não há tratamentos conhecidos.
Monocultura criminosa.
O político malquisto dos barões da droga parece ser o homem certo para guiar o país.