Novas burguesias mafiosas gerenciam hoje o tráfico de cocaína. Através da distribuição conquistam o território onde é comercializada. Um war game de dimensões planetárias. De um lado, os territórios de produção que se tornam feudos onde não cresce mais nada além de pobreza e violência, territórios que os grupos mafiosos mantém sob controle, distribuindo esmolas e caridade que fazem passar por direitos. Não pode haver desenvolvimento. Só prebendas. Se alguém quer se emancipar, não deve clamar por direitos, mas buscar a riqueza. Uma riqueza que deve saber conquistar. Desse modo se perpetua um único modelo de afirmação, do qual a violência é tão só o veículo e o instrumento. O que se impõe é poder produzido e contido em pureza, como a própria cocaína. De outro lado, países e nações onde se possam fincar, bem no centro do mapa, suas bandeiras.
Quanto mais veloz se torna o mundo, mais existe pó; quanto menos tempo há para relações estáveis, para intercâmbios reais, mais há pó.
Fantasias? Os mais de 200 milhões de brasileiros moram em um país que, na geopolítica do pó, parece uma voragem. A sua posição privilegiada o torna um ponto de trânsito perfeito para a cocaína. Segundo o International Narcotcs Control Board, cerca de 25% das duzentas ou trezentas toneladas de cocaína consumidas anualmente na Europa passam pela África e pelo Brasil. Uma nação que tem fronteiras com os três maiores produtores de cocaína do mundo (Colômbia, Peru e Bolívia) e que, por causa da crescente repressão na Colômbia, se tornou um ponto de partida alternativo e mais seguro para os carregamentos de cocaína destinados à Europa. Mas nos últimos anos, junto com a economia brasileira e os salários da classe média emergente, o consumo de cocaína também aumentou, levando o país para o segundo lugar no ranking dos maiores consumidores da droga no mundo, atrás dos Estados Unidos.
