19.7.20

Texto e contexto


O obscurantismo não é exclusivamente uma característica social e intelectual de nosso tempo, com seus personagens pseudo-intelectuais do bolsolavismo. Vem desde a colônia, herança de uma cultura de bacharéis retóricos que queriam apenas engrupir os jecas-tatus brasileiros.

Note-se a contundente análise que Ítalo Moriconi estabeleceu sobre o abastado Brás Cubas:

É bem verdade que alguns expoentes de nossa poesia oitocentista, assim como principalmente do período colonial anterior, tinham sido eruditos de qualidade. Sempre existem os destaques individuais, mesmo nos contextos educacionais mais obscurantistas. Obscurantismo foi, efetivamente, o caso da única universidade disponível para brasileiros no tempo da Colônia, a de Coimbra. Pelo menos até fins do século XVIII, com as reformas pombalinas, ela foi o bastião do que podia haver de mais atrasado em matéria de cultura européia. Como vemos exemplificado muito bem no personagem Brás Cubas, de Machado de Assis, o bacharel brasileiro, com toda a sua ignorância e todo o seu "valor social" dependente de rede de relações de apadrinhamento mafioso, devia esse título ao simples fato de trazer de Portugal um canudo de papel emitido por Coimbra... O título de bacharel era tão fake quanto o título de coronel da Guarda Nacional, instituição esta também soberbamente satirizada por Machado no conto "O espelho".