19.8.20

O gato por dentro


Na Los Alamos Ranch School, onde mais tarde eles fizeram a bomba atômica e não esperaram muito para jogá-la no Perigo Amarelo, alguns meninos estão sentados em troncos e pedras, onde comem alguma comida. Há um riacho no fim de uma ribanceira. Havia um professor sulista com jeito e aparência de político que nos contava, em volta da fogueira, histórias cheias do lixo racista do insidioso Sax Rohmer - o Oriente é mau, o Ocidente, bom.

De repente surge um texugo no meio dos garotos - não sei por que ele fez isso, brincalhão, amistoso e inexperiente como os índios astecas que levaram frutas para os espanhóis, que cortaram fora suas mãos. Então o professor corre até seu alforje, saca seu Colt 45 automático de 1911 e começa a atirar no texugo. Erra todos os tiros, a menos de dois metros de distância. Finalmente bota o revólver a cinco centímetros do bicho e atira. Dessa vez, o texugo rola pela ribanceira até o rio. Eu vejo o animal atingido, seu rosto diminuindo, rolando ribanceira, morrendo, sangrando.

- Você vê um animal e você mata, não é? Ele podia ter mordido um dos meninos.

***

O texugo só queria brincar e fazer umas travessuras, e leva um tiro com um 45 do exército. Dá para entender isso? Para se identificar com isso? Sinta isso. E pergunte a si mesmo: que vida vale mais? A do texugo ou daquele perverso de merda branco?

Como diz Brion Gysin:

- O homem é um bicho mau.

William Burroughs
Trad.: Edmundo B.