Sarah Crichton Books, NY| 2016
O problema está em outra parte: com o desmatamento, a urbanização e a industrialização desenfreados, nós oferecemos a esses micróbios meios de chegar e se adaptar ao corpo humano.
A destruição dos habitats ameaça de extinção inúmeras espécies, entre elas plantas medicinais e animais que sempre abasteceram nossa farmacopeia.
Os riscos do surgimento de doenças não são acentuados apenas pela perda dos habitats, mas também pelo modo como os substituímos. A fim de saciar seu apetite carnívoro, o homem arrasou uma superfície do tamanho do continente africano para criar gado. Parte deste toma a seguir o caminho do comércio ilegal e é vendida em mercados de animais vivos (wet markets). Ali, espécies que talvez nunca se cruzassem na natureza ficam enjauladas lado a lado e os micróbios podem alegremente passar de uma a outra. Esse tipo de progresso, que já engendrou em 2002-2003 o coronavírus responsável pela epidemia da síndrome respiratória aguda grave (Sars, na sigla inglesa), está provavelmente na origem do coronavírus desconhecido que hoje nos ataca.
Esse fenômeno de mutação dos micróbios animais em agentes patogênicos humanos está se acelerando, mas não é novo. Surgiu durante a revolução neolítica, quando o ser humano começou a destruir os habitats selvagens para ampliar as terras cultivadas e a domesticar os animais para transformá-los em bestas de carga. Em troca, os animais nos brindaram com presentes envenenados: devemos o sarampo e a tuberculose às vacas, a coqueluche aos porcos, a gripe aos patos.
Podemos proteger os habitats selvagens para que os animais conservem seus micróbios em vez de transmiti-los aos homens.
Sonia Shah