Notas sobre la televisión

Pierre Bourdieu | 1930 - 2002

Quando a criança da televisão depara com o mundo real, não encontra pessoas, nem famílias como a da novela. Não encontra centros limpos, mas pardieiros sórdidos da realidade. Não encontra estadistas de amplo descortino do vídeo, mas políticos medíocres, sem visão e corruptos. Não encontra sorrisos ou bom humor efervescente de um anúncio de refrigerante, mas ansiedade e monotonia. E, quando deixa de acreditar nesse mundo mítico, a ruptura aberta em sua credulidade é irreparável. A sociedade e a televisão pedem a crença total; quando a imagem que fazem do mundo é desmascarada o resultado é uma descrença total. O jovem de uma geração anterior podia levar alguns choques desconcertantes sem descrer de tudo, mas a fé que agora ensinam é tão completa que não pode sobreviver a um choque. O jovem torna-se cético em relação a tudo. Vê a verdade por trás de todas as formas de atitudes e fingimentos. Não acredita em nada do que lhe dizem. Experimenta o sentimento crucial da nova geração, a traição.