25.3.24

Literatura sem ideologia?


Literatura sem determinada ideologia nunca existiu. Nem pode existir. A arte e a literatura têm sempre um conteúdo de classe - econômico e político, social e ideológico. Tudo isto é claro. Por que, então, ocultam a verdade?

Seria absurdo exigir que Machado de Assis fosse marxista. Ele viveu cômoda e tranquilamente no Brasil bem adaptado ao Império Escravista e à República Semifeudal e burguesa. Foi um médio burguês abastado, alto funcionário público, bem pago, oficial de gabinete de dois ministros do Império, secretário de dois ministros da República. Portanto, permaneceu estreitamente ligado às classes dominantes: os escravistas, até 1888; os grandes proprietários rurais semifeudais e a grande burguesia reacionária, até a morte, em 1908. Exaltou Thiers, o massacrador da Comuna de Paris, inimigo de Marx. Idealizou a pretensa aliança do Brasil com os Estados Unidos.

Que mais? Foi apolítico. Cético, pessimista e niilista. Desprezou os pobres e os homens de cor. Renegou sua origem social e racial. Não quis ver os tipos sociais positivos. Unilateral, só viu a podridão. Foi um decadente. Escolheu como seus heróis tipos decadentes e parasitários - Brás Cubas e o Conselheiro Aires. Escolheu como suas "heroínas" as Vergílias e Capitus.

Em tais condições, é impossível ser marxista. Tudo isso é claríssimo na obra mencionada.

Octávio Brandão
1896 - 1980