9.7.24

Estudos sobre o medo

Os ataques a Nova York e Washington foram organizados como cinema de terror épico, com meticulosa atenção à mise-en-scène. Os aviões sequestrados deveriam se chocar exatamente contra a fronteira vulnerável entre a fantasia  a realidade. Ao contrário da invasão de 1937 transmitida pelo rádio, milhares de pessoas que ligaram a televisão em 11 de setembro se convenceram de que o cataclismo era apenas um programa de TV, uma fraude. Achavam que estavam assistindo a trechos do último filme de Bruce Willis. Desde então, nada interrompeu esse sentimento de ilusão. Quanto mais improvável o acontecimento, mais familiar a imagem. O "Ataque contra a América" e suas continuações "A América Contra-Ataca" e "A América pira de vez" continuaram se desenrolando como uma sucessão de alucinações em celulóide. 

Então a história tornou-se simplesmente uma montagem de horrores pré-fabricados nos chalés dos escritores de Hollywood? Certamente o Pentágono pensou assim quando secretamente convocou um grupo de roteiristas famosos, inclusive Spike Jonze e Steven de Souza para "discutir sobre alvos e planos terroristas nos Estados Unidos e oferecer soluções a essas ameaças". O grupo de trabalho está baseado no Instituto de Tecnologia Criativa, um empreendimento do Exército em conjunto com a Universidade do Sul da Califórnia, que busca o conhecimento de Hollywood para desenvolver jogos de guerra interativos com enredos sofisticados. Um de seus produtores é o Real War, um videogame que ajuda a treinar líderes militares a "lutar contra insurgentes no Oriente Médio". Quando, em 20 de setembro, uma não-identificada "agência de informação estrangeira" alertou o FBI sobre um ataque potencial contra um grande estúdio de Hollywood, foi a última virada numa tira de Möbius que trazia a simulação para a realidade e a levada de volta.

Mike Davis
1946 - 2002