Como bem sublinhou o escritor e crítico belga Simon Leys numa preleção sobre a decadência do mundo universitário, em algumas instituições canadenses os estudantes já são considerados clientes. O mesmo resultado emerge também numa acurada pesquisa sobre o funcionamento de uma das mais importantes universidades privadas do mundo. Em Harvard, como escreveu o professor de filosofia Emmanuel Jaffelin no Le Monde de 28 de maio de 2012, as relações entre professores e estudantes parecem estar fundadas substancialmente numa espécie de clientelismo: “Pagando muito caro sua matrícula em Harvard, o estudante não espera somente que seu professor seja bem formado, competente e idôneo: espera que ele seja submisso, pois o cliente é um rei.” Em outras palavras: os débitos contraídos pelos alunos nos Estados Unidos para financiar seus estudos, o equivalente a quase um trilhão de dólares, obriga-os a estar “à procura mais de renda que de saber”.
De fato, o dinheiro que os alunos matriculados depositam no caixa das universidades ocupa um lugar de destaque nos balanços preparados pelos reitores e pelos conselhos administrativos. E esse dado começa a ser muito significativo também nas universidades públicas, onde se procura atrair estudantes a qualquer preço, promovendo verdadeiras campanhas publicitárias, como acontece com os automóveis e os produtos alimentícios. As universidades, infelizmente, vendem diplomas e títulos. E os vendem insistindo especialmente no aspecto profissionalizante, oferecendo aos jovens cursos e especializações com a promessa de emprego imediato e renda atraente.
Nuccio Ordine
1958 - 2023