Ao lado de uma raiz de árvore, quase me era dado distinguir o pequeno e sujo rato do Paleoceno, eterno vagabundo e caminheiro do mundo, pai de toda a Humanidade.
Foi no Paleoceno que se verificou a primeira grande irradiação dos mamíferos de placenta, entre os quais os primeiros primatas, ordem zoológica a que pertence o homem.
Os caçadores de ossos conseguiram demonstrar que numerosos primatas revelam assinalável desenvolvimento de característicos próprios de roedores, nos dentes e no crânio, durante esse primeiro período de evolução mamífera.
O sujo pseudo-rato que eu vira eriçar o pelo, para secá-lo após as noites úmidas da era dos répteis, subira de novo ao crepúsculo esverdeado da floresta chuvosa, onde oram seus senhores os tagarelas de dentes que cresciam constantemente, e a quem pertenciam o sol e a relva.
É concebível que, não fora a invasão dos roedores, a linha dos primatas poderia ter abandonado as árvores. Poderíamos estar sobre a relva, você e eu, latindo ao sol dos planaltos.
O homem como a glicínia da parede do jardim, está enraizado no seu século. O homem como a trepadeira agarrada ao espaço, não pode percorrer pessoalmente a dimensão do tempo.
Por quantas dimensões e por quantos meios terá de passar a vida? Por quantos caminhos no meio dos astros terá de enveredar o homem em busca do segredo final?
Numa vida, não seremos capazes de ver tudo quanto gostaríamos de ver, nem de aprender tudo quanto ansiamos por saber.
Quanto a mim, o que me é dado é relatar o que vejo no meu deserto. O importante é que cada um possua um deserto e considere que prodígios nele se podem observar.
Na ilha do mundo somos todos náufragos: o que um vê pode ser para outro sombrio ou obscuro.
Loren Eiseley
1907 - 1977