A fragilização do casamento se deve ao fato de que ele repousa sobre o amor mútuo, uma base muito mais frágil do que os contratos diante do notário. Outrora, o casamento era antes de tudo uma questão de segurança material, uma complementariedade utilitária entre uma fonte de renda e uma mulher boa dona de casa. O amor vinha eventualmente reforçar a associação. Agora, não há mais complementariedade, mas duplo emprego. Os dois parceiros, não tendo mais materialmente necessidade um do outro, seu único laço é o amor, um sentimento que se desgasta cada vez mais depressa, tanto mais depressa quanto por meio dele cada um se busca a si mesmo, e as ocasiões de encontros se multiplicam. Ama-se uma pessoa porque se ama a imagem de si mesmo que ela nos envia. Todo mundo procura seu desenvolvimento pessoal por meio do outro, e todo mundo teme a dependência. Daí vem um clima de desconfiança crescente. O casamento moderno é a união entre dois Narcisos que frequentemente desemboca na solidão. "Uma letra diferencia o celibato do casamento: tédio - tédios", já dizia John Grand-Carteret num gracejo. Quando o amor se desfaz, aquele que se entendia mais pede o divórcio e impõe uma solidão dolorosa ao parceiro: "As leis do amor contemporâneo são, pois, profundamente individualistas. Todas as configurações são permitidas: eu te amo, eu não te amo mais; nem contigo nem sem ti. Nesse jogo aparentemente muito egoísta, os golpes dados um ao outro são ao mesmo tempo dados a si mesmo. Impomos a solidão àquele que abandonamos, mas isso não impede que fiquemos sós"
