Vivemos sob o impacto de uma evidência nova, surgida com Marx, a saber, que o mundo capitalista, o mundo moral, nosso mundo, é literalmente abjeto: deve ser rejeitado. O marxismo pôs em nosso caminho a pedra monumental da recusa, que nenhum escritor pode evitar, remover ou virar. É verdade que a literatura, por essência crítica, disse em todos os tempos o que "não vai bem" no mundo; no entanto, a partir do desvendamento marxista (revolucionário, e não mais reformista; em suma: total), a própria forma de escritor deverá, cedo ou tarde, ser alvo de sua crítica do mundo: a língua com a qual se recusa, vindo daquilo que se recusa, deve também ser recusada. É em função dessa dificuldade capital que toda obra moderna, ao que parece, deve ser lida, buscada, julgada e amada.