10.3.16

para dar um fim ao juízo


[1925 - 1995]

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O combate não é de modo algum a guerra. A guerra é somente o combate-contra, uma vontade de destruição, um juízo de Deus que converte a destruição em algo “justo”. O juízo de Deus está a favor da guerra, e de modo algum do combate. Mesmo quando se apodera de outras forças, a força da guerra começa por mutilá-las, por reduzi-las ao estado mais baixo. Na guerra, a vontade de potência significa apenas que a vontade quer a potência como um máximo de poder ou de dominação. Nietzsche e Lawrence verão nisso o mais baixo grau de vontade de potência, sua doença. Artaud começa evocando a relação de guerra EUA-URSS; Lawrence descreve o imperialismo da morte, dos antigos romanos aos fascistas modernos. É para melhor mostrar que o combate não passa por aí. O combate, ao contrário, é essa poderosa vitalidade não orgânica que completa a força com a força e enriquece aquilo de que se apossa. 

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O combate não é um juízo de deus, mas a maneira de acabar de vez com deus e com o juízo. Ninguém se desenvolve por juízo, mas por combate que não implica juízo algum. 

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... a vontade de potência contra um querer-dominar, o combate contra a guerra. 

Gilles Deleuze
Trad.: Peter P. Pelbart 
1997