12.9.16

as causas psicológicas do nazismo

[1912-1973]

O sadomasoquista moral se traduz numa vontade doentia de poder e dominação, ligada a uma ânsia, igualmente doentia, de submissão e autodiminuição. [...] O sadomasoquista moral só sente bem dentro de uma hierarquia rigorosa, em que sempre há alguém por cima e alguém por baixo dele - posição exata da pequena e da media burguesia.

Entre os múltiplos caminhos de evasão do isolamento e da liberdade oferece-se o do sadomasoquismo como meio de fuga inconsciente para as massas. O sadismo é a tentativa inconsciente do indivíduo de sobrepor-se à solidão e ao sentimento da sua extrema pequenez pelo engrandecimento da própria pessoa a tal ponto que domina e, por assim dizer, engole um ou outros indivíduos. Desta maneira, incorporando outros, ele se sente, inconscientemente, valorizado e fortificado. O impulso masoquístico, ao contrário, é a expressão inconsciente de uma tentativa de aniquilação do próprio "eu", que, assim, pela sujeição a um poder superior, espera libertar-se do isolamento doloroso. Os dois fenômenos são sintomas de um só estado de fraqueza e insegurança. O sadista, embora parecendo "homem forte", é no íntimo um fraco, pois sua vontade de poder é um sinal da sua essencial dependência daqueles que domina. Longe de ser autônomo, capaz de realizações positivas, é ele, ao contrário, nas suas formas excessivas, uma pessoa mórbida, escravizada, apta apenas para ações destrutivas. Esta fraqueza ressalta pelo fato de ele ser igualmente dominado por instintos de submissão.

O futuro da democracia, sistema dentro do qual a liberdade poder-se-á realizar relativamente de maneira melhor, depende da sua capacidade de criar condições econômicas-sociais e o ambiente espiritual que possibilitem a educação de indivíduos relativamente autônomos, seguros de si mesmos num estado de segurança geral em que não podem desenvolver-se o medo, a angústia, a preocupação constante, a solidão insuportável para o espírito médio; a futura democracia depende da sua capacidade de criar condições nas quais possam desenvolver-se indivíduos que não sejam autômatos que sucumbam a qualquer campanha de propaganda, mas que saibam raciocinar com discernimento; que sintam seus próprios sentimentos e não os que poderes anônimos sugerem; que tenham emoções genuínas e não as que convém a patriotas espertos; que ajam de acordo com seus próprios desejos humanos, dentro dos limites sociais e não obedecendo a desejos de alguns que puxam as cordas. Se Sócrates disse "conhece-te a ti mesmo!", devemos dizer hoje: "seja você mesmo! Não seja o que outros querem que você seja!"

Anatol Rosenfeld