17.9.16

informação, definições, adjetivos


A guerra midiática durante as manifestações [São Paulo, agosto de 2013 até a Copa do Mundo 2014] foi incessante. Pouco a falar sobre os grandes veículos de comunicação que não tenha sido dito já até a saciedade, porém, um fenômeno, talvez mais imperceptível, mas muito mais transformador, nunca deixou de chamar a minha atenção: em cada um dos protestos, além dos veículos formais, havia cidadãos anônimos com smartphones, reproduzindo via streaming, filmando, fotografando, opinando...

Curioso como muitas pessoas não querem aceitar mais ser consumidores dóceis de informação. Querem produzir, criar. Claro que isto é algo extraordinário, avançar do cidadão-consumo ao cidadão-informação, mas nada é sempre cor-de-rosa. Nas manifestações, o jogo sempre é complexo e a informação pode muito bem servir de base tanto para o diálogo quanto para a neurose.

Frequentemente, depois de cada manifestação, depois do enfrentamento na rua, começava o enfrentamento na rede social e a conclusão do dia era uma histeria midiática aumentando a polarização e o clima de tensão. Cenas de violência de manifestantes e de violência de policiais. Essas cenas resumiam tudo, como se não tivesse existido nada mais durante as horas de cada manifestação. Como se tudo pudesse se vulgarizar, rapidamente, sem tempo para a análise, para a sagacidade, para a diversidade dos fatos. O que é complexo parece cansar na rede.

A internet e especificamente a rede social Facebook exercem um papel fundamental nos protestos. O Facebook não é só a plataforma de convocação, organização e difusão dos eventos, mas atua também como fortalecedora da identidade coletiva Black Bloc. Informações sobre a tática, notícias sobre sua atuação em diversos países, sentimentos, experiências, expectativas pessoais de cada um dos adeptos sobre a situação nas ruas, comentários contra a Polícia Militar... Proximidade, horizontalidade, ampla liberdade de expressão, fatores que disseminam ideias coletivas com rapidez e atuam como estimuladores.

Mas a internet que redemocratiza, onde todos podem ser criadores em vez de meros repetidores, às vezes parece uma selva de sociopatas. Espaço dos lugares-comuns por excelência, onde tudo é trivializado, pouco é debatido. Horas na frente do Facebook e, em vez de questionamentos, só reproduzimos dogmas.

Esther Solano