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Perambulamos em meio a espectros do comum: a mídia, a encenação política, os consensos econômicos consagrados, mas igualmente as recaídas étnicas ou religiosas, a invocação civilizatória calcada no pânico, a militarização da existência para defender a "vida" supostamente "comum", ou, mais precisamente, para defender uma forma-de-vida dita "comum". No entanto, sabemos que esta "vida" ou esta "forma-de-vida" não é realmente comum, que quando compartilhamos esses consensos, essa guerra, esses pânicos, esses circos políticos, esses modos caducos de agremiação, ou mesmo esta linguagem que fala em nosso nome, somos vítimas ou cúmplices de um sequestro.
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O que o corpo não aguenta mais é a mutilação biopolítica, a intervenção biotecnológica, a modulação estética, a digitalização bioinformática do corpo, o seu entorpecimento nesse hedonismo. Em suma, num sentido muito amplo, o que o corpo não aguenta mais é a mortificação sobrevivencialista. Seja em um estado de exceção, seja na banalidade cotidiana, como em um shopping center das nossas cidades.